sábado, 15 de dezembro de 2007

Adeus, CPMF

Não teve choro nem reza. No último dia 12, o Senado rejeitou a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, a CPMF. A oposição votou unida e, por 45 votos a 34, desestruturou os planos econômicos do governo em 2008.

Desde muito cedo, os aliados da base governista buscavam os outros parlamentares para que eles votassem a favor da CPMF para garantir os R$ 40 bilhões provenientes deste imposto. Logo antes da sessão, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) ainda tentou adiar a votação, alegando que os senadores precisariam de mais tempo para avaliar a proposta-relâmpago feita pelos ministros da Fazenda e das Relações Institucionais, de destinar 100% da CPMF para a área da saúde nos próximos três anos. Mas Romero foi severamente criticado pela oposição, e teve de ceder às pressões.

Novas cartas foram tiradas da manga. Governadores clamaram pela continuação da CPMF, o senador Aloísio Mercadante (PT-SP) deu uma de ator, e fez um discurso emocionado a favor do governo, Pedro Simon (PMDB-RS) aproveitou seus cabelos brancos para tentar persuadir os colegas numa explanação dramática e até mesmo o presidente Lula assinou uma carta que foi lida antes da votação. Resumo da ópera: Nada adiantou!

Por incrível que pareça, o governo estava confiante na vitória e não pensou num plano B, caso o “inesperado” acontecesse. Eis que a CPMF foi rejeitada até 2011 e agora Lula, Mantega e CIA Ltda. estão “a chupar dedo”, como diria qualquer bom lusitano.

O fato é que, deixar de ter assegurado R$ 40 bilhões por ano nos cofres públicos é um sacolejo na economia de qualquer país em desenvolvimento. Logo depois do anúncio, a BOVESPA fechou em forte queda, as especulações financeiras começaram e o medo de setores como a saúde e os programas assistencialistas do governo serem prejudicados é grande. Os estudiosos dizem que provavelmente, a partir de agora, o governo vai aprender a “gastar melhor” e afirmam que dificilmente serão criados outros impostos, o que não impede o aumento dos que já existem, como, por exemplo, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Com a derrota no Senado, restam ao governo duas coisas: apresentar uma proposta para reimplementar o imposto ano que vem, e votar o orçamento para 2008 que já está com data marcada: depois do carnaval. Enquanto isso, estamos livres da CPMF a partir do dia 1º de janeiro. Tomara que realmente o governo consiga replanejar da melhor forma possível o futuro financeiro do país, sem prejudicar as já dilaceradas e tão carentes áreas da educação e saúde por essa baixa na arrecadação pública.

A Venezuela diz NO

Para quem tinha pretensão de ficar no poder até 2050, com o apoio popular, esse foi um belo “balde de água fria”. No último dia 2, a Venezuela passou por um referendo onde se discutia a possibilidade de uma reforma constitucional que daria poderes ditatoriais ao presidente Hugo Chávez.

Depois de um sonoro “¿Por que no te callas?” do Rei da Espanha, durante a Cúpula Ibero Americana no Chile, Chávez teve de engolir seco o “No” de 51% dos eleitores venezuelanos nas urnas. Apesar de ter a maioria do povo ao seu lado desde que foi eleito presidente, ele não conseguiu abafar a insatisfação e os protestos dos estudantes, embora tenha tentado das mais diversas formas possíveis.

Dias antes do referendo, a cidade de Caracas parecia um campo de guerra. Policiais usavam armas de fogo, bombas de gás e a força bruta para interromper as passeatas dos não-chavistas. Mas a resposta veio das urnas. Muitos analistas atribuem o resultado do referendo ao alto índice de abstenção, que chegou a 44%. Dois dos fortes fatores que fizeram com que milhares de venezuelanos não saíssem de suas casas para votar foram: a rejeição do ex-ministro da Defesa, Raúl Baduel, que descreveu a reforma como “golpe de estado” e o apelo da ex-esposa de Chávez para que todos votassem no “Não”. Como castigo pelo atrevimento em desafiá-lo, o dito cujo entrou na justiça para ficar com a guarda de sua filha, que até então mora com a mãe. Acreditem!

Ao contrário do que se imaginava, Chávez aceitou o vexame nas urnas, afirmou que esse resultado era parcial e ainda disse que tudo não passou de uma “derrota de mierda”, frase que dispensa traduções. Tratando-se de Hugo Chávez, essa afirmação assusta. Para quem tentou dar um golpe de estado em 1992, mudar a constituição sem o aval dos cidadãos e dos parlamentares é fichinha. O que ainda o intimida é a comunidade internacional, comunidade esta que aos poucos está rompendo relações com a Venezuela devido às malcriações de Chávez.

O caso da mala
Quem parece estar em lua-de-mel com o presidente venezuelano é a nova presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Recentemente ela e seu marido, o ex-presidente Nestor Kirchner, foram acusados de receber uma mala com US$ 800.000 vinda de Caracas. Segundo investigações, o dinheiro teria sido enviado por Chávez para patrocinar a candidatura de Cristina.
Chávez fala que mais uma vez isso foi uma armadilha norte-americana para prejudicá-lo. Cristina diz que não ter recebido nenhuma mala recheada de dólares durante sua campanha ruma à Casa Rosada. Uma coisa é certa: pra mim é que essa mala não veio. Óbvio que alguém enviou e alguém recebeu a mala com esse “curioso empréstimo”. Esperaremos o desenrolar das investigações, a descoberta dos protagonistas da história e o desfecho dessa novela latina.

Dom Cappio em greve

Pela segunda vez em pouco mais de dois anos, o bispo da Diocese de Barra (BA) Dom Frei Luiz Flávio Cappio começou no dia 27 de novembro outra greve de fome, protestando contra a transposição do Velho Chico. O primeiro jejum em 2005 durou 11 dias, quando o governo federal planejou iniciar as obras de transposição.

Naquela época, o bispo chamou a atenção da comunidade internacional e o presidente Lula foi obrigado a suspender as obras temporariamente, além de aceitar estabelecer diálogo com a comunidade civil sobre os prós e os contras da intervenção.

Este ano, com a retomada do projeto e com a presença do exército nos locais das obras, o bispo enviou uma carta ao presidente Lula onde anunciava o segundo jejum ao mesmo tempo em que o criticava severamente. “O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou o nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira”, afirma Cappio, na carta.

Ao mesmo tempo em que o jornal Folha de São Paulo anunciou que D. Cappio começou a apresentar sinais de desidratação e anemia, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, afirmou ao jornal que a nova greve de fome do religioso “parece chantagem”. O ministro pediu ajuda ao governador baiano, Jacques Wagner, para deixar uma equipe médica ao dispor do bispo e aproveitou para comunicar que o governo não vai mais negociar, por se tratar de um projeto “ambientalmente sustentável e socialmente justo”.

Por falar em greve de fome...
Quem não deve estar nada contente com toda essa repercussão da greve de fome do bispo Cappio é o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, que também tentou fazer uma greve parecida, alegando ser perseguido pela mídia durante as eleições presidenciais de 2006. É óbvio que são situações distintas. A iniciativa do bispo baiano tem um fundo social e político, enquanto que a de Garotinho se tratava de uma estratégia midiática para chamar a atenção, mas tudo que ele conseguiu foi se ridicularizar ainda mais, quando ninguém achava que isso seria possível.

Diferentemente, D. Cappio afirma que já existem propostas concretas para garantir o abastecimento de água para toda a população do semi-árido, por meio de ações previstas no Atlas do Nordeste, apresentadas pela Agência Nacional de Águas (ANA), além de ações desenvolvidas pela Articulação do Semi-Árido (ASA).

Gostaria de saber quantos milhões de reais seriam gastos e qual empresa faria esta obra. O governo está ansioso demais para começar as atividades no sofrido, porém valente, Velho Chico. Isso está me cheirando a maracutáia pesada! Por que não avaliar detalhadamente as propostas apresentadas pelo bispo? Seria muito mais sensato levar água para todo o povo nordestino sem gastar uma quantia exorbitante e sem agredir o rio, mudando seu curso natural.

Se as propostas do bispo forem possíveis, sugiro um novo fim pra esse dinheiro que parece está sobrando nos cofres públicos. O que não falta no Brasil são escolas e hospitais que necessitam ser reconstruídos. Pelo menos para este problema, ninguém, até hoje, propôs uma forma menos invasiva e mais econômica de solução.

Se essas propostas não forem plausíveis o bispo então está lutando em vão. Será isso possivelmente uma tentativa de morrer como um santo e se tornar o mais novo Padim Ciço do sertão, como opina Bernardo Kucinski? A chance de isso acontecer ainda é incerta, a certeza é que se ele morrer devido a essa greve, o governo Lula será para sempre lembrado como pivô da morte do bispo de Barra.

Lá vai o SBT, descendo a ladeira…

Apesar de seus longos anos de experiência no comandando das intermináveis tardes de domingo, Silvio Santos e o SBT estão perdendo status no mundo televisivo. O patrão, conhecido pelo hábito de meter a mão na grade de programação do SBT, segunda maior emissora de televisão do país, tem passado por quebra de contrato com afiliadas, baixa constante nos níveis de audiência e protesto de anunciantes.

O que marca a rede televisiva nestes últimos anos é, sem dúvidas, a alternância de programação. Ninguém sabe ao certo quais são os programas do SBT nem seus horários. Segundo a última edição da revista Exame, “somente o programa da apresentadora Adriane Galisteu trocou de horário nada menos que quatro vezes apenas neste ano”. As dificuldades do SBT podem estar escondidas nas entrelinhas. “Há indícios de que a fortíssima imagem de Silvio Santos já não consegue, por si só, atrair o público”, como afirma a repórter Denise Carvalho. Análise do IBOPE mostra que a audiência do SBT caiu de 13,3% em 2001 para 7,3% no ano passado.

As mudanças na grade de programação têm prejudicado financeiramente as retransmissoras do SBT. Os anunciantes resistem em investir numa rede onde a programação é altamente instável. Em 2006, o SBT registrou prejuízo de R$ 3,2 milhões, o pior desempenho entre os negócios de todo o Grupo Silvio Santos. Negócios diretamente ligados à imagem do apresentador e da emissora, como a Tele Sena e o Carnê do Baú, também estão em vertiginosa queda. Enquanto a venda da Tele Sena caiu em 50%, o Carnê do Baú teve um déficit de 20% nessa década.
Sai Sílvio, entra Edir
A Rede Record, do bispo Edir Macedo, está aproveitando esta maré de azar da concorrente e atraindo retransmissores insatisfeitos da rede de Silvio Santos. A Rede Pajuçara, de Alagoas, e a Rede SC, de Santa Catarina, já cancelaram contrato com o SBT e se filiaram à Record. Os executivos locais dizem que a fórmula usada por Silvio para recuperar a audiência, com a apresentação de antigas atrações, como Chaves, Viva a Noite e Qual É a Música, é cansativa e ineficiente.

Uma possível venda
Em meio a tanta baixa, o SBT recebeu uma proposta de compra. Quem se interessou pela rede foi o apresentador e empresário Roberto Justus. O patrão já avisou que para iniciar qualquer negociação de venda de sua emissora, desejaria receber uma oferta inicial de, no mínimo, R$ 2 bilhões.

Enquanto isso no andar de baixo…

Parece até brincadeira. Realmente é difícil de acreditar. Mas, aconteceu.

Depois de uma péssima campanha durante o Campeonato Brasileiro deste ano, o Sport Clube Corinthians Paulista está oficialmente na 2ª divisão da maior competição de futebol do país. Fundado em 1910, o clube estava tão mal das pernas que a tragédia já estava anunciada três rodadas antes do fim do campeonato. Depois de um empate com o Goiás e de uma derrota para o Vasco, o Timão brigava por uma vitória em Porto Alegre contra o Grêmio. O desfecho dessa história não precisa contar, né?

Foi assim que o Corinthians partiu rumo a segundona: longe de casa, com muito choro e reclamação dos torcedores fiéis ao clube. Esse feito inédito nos quase 100 anos do clube é fruto de problemas, como suspeitas de desvio de dinheiro na compra e venda de jogadores e de caixa 2. Só neste ano o clube teve três treinadores (Carpegiane, José Augusto e Nelsinho Batista), além de ter vendido craques para fazer caixa.

O Timão em 2008
Agora o que resta ao time é partir para a briga ano que vem. Para isso, o Corinthians enfrentará equipes que não vê há tempo, como o Avaí e o Bahia. A única partida contra o time catarinense foi um amistoso realizado em 1943, vencido pelo Corinthians por 4 a 3. Já contra o Bahia, o Timão fará o maior clássico da série B em 2008, já que ambos os times são campeões brasileiros.

Os jogadores terão que percorrer 46,4 mil quilômetros durante os oito meses da competição, isso porque não competem times da região Norte. A maior distância será para Fortaleza, cerca de 3.172 quilômetros.

Para contratar jogadores, o time vai penar. Tudo isso porque o clube não tem caixa. Em vez de jogadores, a direção apostou todas as suas fichas na contratação do técnico Mano Menezes, ex-Grêmio e especialista na segundona.

Tristeza para uns, alegria para outros
Enquanto milhares de corintianos sofreram com a ida do time pra a segundona, os são-paulinos e palmeirenses estão rindo à toa. Rindo da desgraça do adversário de maior tradição e, no caso do São Paulo, rindo devido ao polêmico pentacampeonato conquistado muito antes do brasileirão acabar.

E a galera não perdoa. Nos sites e nas comunidades da rede de relacionamento, o Orkut, torcedores fazem charges e piadinhas com o atual momento vivido pelo Timão. O Corinthians tem a possibilidade de reverter esse quadro e voltar à elite do futebol brasileiro ano que vem e, para isso, pode contar com o apoio da decepcionada, porém fiel, torcida. Isso se não quiser continuar sendo motivo de chacota de seus rivais por mais alguns anos.